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Editorial - Maximalism is Grunge

O grunge nasceu em Seattle, no fim da década de 80, como um subgênero do rock alternativo. As músicas do estilo traziam muita melancolia em suas letras e inspiraram toda uma geração, transformando o estilo musical em uma subcultura, um estilo de vida, que tendenciou a moda da época. O público grunge era formado por jovens da classe trabalhadora, que adotavam uma estética despojada, com mistura de estampas e grande quantidade de camadas para se proteger de estações frias - já que tinham poucos recursos para compras. O uso das camadas como recurso de sobrevivência deu origem ao maximalismo, junto ao estilo Harajuku (um estilo maximalista criado no bairro Harajuku, no Japão). Parafraseando Newton, toda ação gera uma reação de mesma intensidade; O maximalismo é uma reação ao minimalismo. Esse termo cresceu nos últimos anos, sendo considerado um conceito pós-moderno, com o lema: "mais é mais". Porém, na moda, já vimos ideias dessa tendência há tempos, não glorificado. Atualmente a tendência incentiva o consumismo, se opondo aos ideais iniciais. Nesse editorial apresentamos isso: o maximalismo consumista com a glamourização de ambientes da classe trabalhadora.
Levando em conta os pensamentos de Tumin (1970), entende-se por estratificação social a disposição de um grupo, indivíduo ou sociedade perante uma hierarquia de poder, valorização social e satisfação psicológica. Entender a sociedade e como as “camadas” sociais funcionam é compreender de forma incisiva o apagamento da subcultura e ideais grunge. Na história da humanidade, os estratos menos abastados sempre buscaram meios de sobrevivência e conforto, readaptando suas ferramentas disponíveis a fim de sobreviver, ressignificando e criando signos próprios para seus costumes. No final dos anos 80, com um cenário de instabilidade econômica, os jovens de classes mais baixas, guiados pela paixão ao rock alternativo e inspirados em bandas de punk rock, heavy metal, hardcore e rock psicodélico, passam a exprimir suas emoções apáticas, ausentes de esperança, como forma de escapismo dos problemas sociais. Esse desvio, somado às ferramentas de sobrevivência, acabaram criando um movimento anti-moda.
Desta forma, elementos cruciais para a sobrevivência, como o uso de sobreposições no vestuário grunge, evidenciam-se ao longo do crescimento da influência anti-moda, promovendo um apagamento do propósito e motivo inicial do uso dos recursos. Além das layers, o uso de elementos rasgados, desgastados e manchados passa a ter uma gourmetização; as peças que antes eram adquiridas em brechós, já usadas e deterioradas, passam a ser encontradas com o visual destroyed em lojas de departamento, boutiques e marcas de luxo; como é o caso do Paris Sneaker da Balenciaga, um tênis de luxo com a aparência desgastada e suja. Essa estética em Maisons traz à tona a ideia principal do editorial: a glamourização do que já foi, ou é considerado “pobre”.
Ademais, a popularização da subcultura modifica e ressignifica o ato de vestir-se com muitas camadas de roupas, originando o maximalismo e o uso das layers como recurso estilístico, contrariando a necessidade de construção de sobreposições por falta de recursos. No ensaio “Maximalism is Grunge” nota-se tal construção com roupas de grife e slow fashion, junto às peças de brechó, oscilando entre a glamourização das “camadas” e a ideologia grunge.
Se, por um lado, o maximalismo como resposta reativa e de apropriação ao movimento reforça outro aspecto contundente de apagamento histórico e ideológico grunge: o consumismo exagerado; por outro ele caracteriza o estilo, com as sobreposições, estampas e peças oversized. Essa contradição, no editorial, expressa-se na quantidade de camadas, acessórios e padronagens, que possibilitam a identificação grunge, e torna-se ferramenta principal para distinção do estilo.

Editorial - Maximalism is Grunge
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Editorial - Maximalism is Grunge

Trabalho feito para a matéria de História do Design de Moda, pela Universidade Positivo, sob orientação da professora Ana Paula França.

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